terça-feira, 18 de novembro de 2014

As aventuras de Hans Staden
 
Hans Staden, um alemão que fora aprisionado pelos tupinambás no litoral fluminense, em 1554, depois de ter voltado para casa, escreveu, provavelmente, um dos primeiro best-seller sobre o Novo Mundo. Sua narrativa, tantas vezes editada entre nós, não só teve agora uma bem ilustrada nova impressão, como serviu de roteiro para um filme que ora ganha cartaz no Brasil inteiro.

A captura: imaginem ser capturado no Brasil do século 16 por um aborígine chamado Nhaepepô-açu,"Panela Grande", e, pior ainda, ser dado em seguida de presente a um outro, de nome Ipirú-guaçu, o "Tubarão grande"! Nada de esperançoso, pois, aguardava o pobre Hanz Staden, um alemão do Hesse que, embarcado para cá, caíra aprisionado pelos tupinambás, no ano de 1554. Não satisfeitos em ameaçar devorá-lo a qualquer instante, os seus captores, depois de terem-no levado para a aldeia deles em Ubatuba, arrastavam-no para que presenciasse as cerimônias antropofágicas que realizavam. Certa vez, carregaram-no até a aldeia de Tiquaripe, perto de Angra dos Reis, para ver um dos seus inimigos ter a cabeça esmagada pelo ibirapema, o tacape de execuções. Logo em seguida, assistiu os restos do bravo serem rapidamente deglutidos pela tribo inteira, embriagada previamente com licor de raízes de abatí.

 
                                                  Um livro incrível  
    
taden, que miraculosamente retornou ao Hesse, registrou seus tormentos de prisioneiro dos nativos num livro maravilhoso para ler: Viagens e aventuras no Brasil(Wahrhaftige Historia, editado em Marburg em 1557). Porém, ele não foi o primeiro alemão a pôr os pés no Brasil. Houve ainda um outro, um tal de Ulrich Schmidel, um lansquenete que, em 1540, com um grupo de aventureiros a serviço dos espanhóis, embrenhou-se inutilmente na Amazônia, atrás da lendária tribo de mulheres guerreiras (façanha contada na História verdadeira de uma viagem curiosa feita por Ulrico Shmidel, editada em Frankfurt, em 1567).
Interessa, porém, observar, no que toca ao livro de Staden, as precauções que ele tomou na Alemanha para que acreditassem nele. A Europa do século 16, o grande século das navegações, estava cansada de ler ou ouvir relatos eivados em mentiras e absurdos diversos.
O descrédito das narrativas de viagem. A tal ponto tinha chegado a coisa, que Rabelais, o grande satírico francês, fazendo mofa do livro do padre cosmógrafo André Thévet (Singularitez de la France Antarctique, 1558), decidiu-se inserir na sua obra-prima, dois capítulos denunciando, pelo riso, o disparate das visões mentirosas que alguns viajantes tiveram no inexistente País de Cetim.


Criou, também, como símbolo desses mitômanos, um personagem-caricatura, o "Ouvi-dizer", que, apesar de ser um velho, corcunda e paralítico, tendo a língua esfacelada em sete pedaços, narrava com um mapa-múndi aberto à sua frente, as suas impossíveis aventuras para uma multidão de crédulos. Eram histórias de unicórnios, de mantichoros com corpo de leão e cara humana, de cabeçudíssimos catoblepos de olhos venenosos, de hidras com sete cabeças, de onocrotalos que imitavam gritos de asno, de pégasos, e de tribos de seres com cabeças de pássaros, ou até mesmo com duas cabeças, de povos fabulosos que andavam apoiados nas mãos, com as pernas balançando no ar! (ver o livro V de Gargantua e Pantagruel, de 1564). Querendo, pois, evitar ser chamado de embusteiro, Staden, além de banir do seu relato qualquer menção à zoologia fantástica, pediu a um conhecido seu do Hesse, um tal de Dryander, que assegurasse a veracidade do conteúdo do livro. O alemão, "ébrio de um sonho heróico e brutal", viera a dar com os costados no Brasil para satisfazer seu gosto pela aventura, para ver de perto as maravilhas que escutara na Europa sobre o Novo Mundo descoberto. Foi na sua segunda viagem ao Brasil (na primeira ele conheceu Pernambuco) que Staden naufragou nas costas do litoral fluminense. Por saber lidar com canhões, os portugueses, que o acolheram muito bem, promoveram-no a artilheiro do Forte de Bertioga.
                            Entre os tupinambás


Certo dia, num descuido seu, os tupinambás, inimigos dos lusos, o maniataram, dando início então ao seu calvário. Amarrado e transportado por mar na piroga indígena, Staden fez de tudo para convencer seus captores de que ele não era um peros, um português, mas sim um mair, um francês, portanto um aliado deles. Conseguiu pelo menos deixa-los na dúvida. Afinal, os índios podiam matar alguém amigo. A alvura do alemão e sua barba loira devem tê-lo ajudado, pois os tupinambás, provavelmente, nunca tinham visto um português brancarrão como ele. Staden atribuiu a sua sobrevivência às rezas, o tempo inteiro, feitas com redobrado fervor.
Os antropólogos, porém, conhecendo hoje melhor os rituais de antropofagia, lendo Staden, chegaram a outra conclusão. Não o abateram e o moquearam por que Staden pareceu-lhes um covarde, cuja carne era indigna de ser ingerida por um valente tupinambá. Não foi pois, o olhar de Deus que o salvou, mas o tremor que abalou o seu corpo e a sua voz.
O que impressiona o leitor, é como Staden conseguiu manter um excelente poder de observação em meio aos perigos em que se encontrava. Deve-se a ele termos um relato em primeira mão da vida dos indígenas, com quem partilhou hábitos e costumes, privando com os seus cheiros, humores, e impudores. Não se trata das observações, quase que de rigor científico, como as do genebrino Jean Lery em sua passagem pelo Brasil, quando por aqui esteve na França Antártica de Villegagnon, em 1557. Oportunidade em que, visitando algumas tabas e conversando com os nativos, ao redor da baia da Guanabara, coletou material e assunto. De volta ao Velho Mundo, Lery publicou um ensaio que é considerado como um dos mais soberbos levantamentos etnográficos do Brasil: o Viagem a terra do Brasil, La Rochelle, 1578. Staden, ao contrário, viveu oito meses em meio aos seus captores. Afinal, os tupinambás tinham-no transformado num Ché remimbaba indé, num animal doméstico, que seu dono, o já referido Tubarão Grande, conduzia amarrado como um cão para todos os lados.
Angustia-se o leitor com a falta de solidariedade de alguns marinheiros franceses para com o pobre homem. Certa vez, o alemão chegou a abordar um barco ancorado bem próximo à praia para pedir asilo. O comandante, para desespero do fugitivo, mandou que se afastasse, porque não queria a inimizade dos índios. Se o acolhessem, disse, os tupinambás, magoados, não fariam mais escambo com ele. Mas, por fim, Staden conseguiu, numa outra oportunidade, um convés amigo que o levou de volta à Europa. O livro de Staden foi um sucesso, tendo conhecido várias tiragens. Talvez tenha sido o primeiro best-seller relatando uma aventura no Novo Mundo.
 
O primeiro best-seller do Novo Mundo


Zinca Wendt (Relatos quinhentistas sobre o Brasil, Berlim, 1993), demonstrou que o êxito da vendagem do livro de Staden , além das suas óbvias qualidades, e de transmitir ao leitor a permanente sensação de horror em vir-se a ser vítima do canibalismo, deveu-se largamente à mensagem religiosa que continha. O crente náufrago apareceu aos seus conterrâneos da Igreja Reformada, como alguém que escapara miraculosamente das garras do demônio, graças a sua fé protestante. Aliás, ao longo do livro, Staden reproduziu as orações e preces que fez aos céus para poder escapar aquele pesadelo. Portanto, a narrativa, também, serviu como uma poderosa arma na guerra travada ao longo do século 16, entre protestantes e católicos. A Nova Fé, derivada da rebeldia de Lutero, igualmente, era capaz de provocar milagres!
























                                                                REFERÊNCIA
 




DOMINGOS VANDELLI


                                                                                                                                                   Domingos Vandelli (1735-1816)


 

Domenico Agostino Vandelli nasceu em Pádua, Itália. O seu pai, G. Vandelli era Professor na Universidade de Pádua e doutor em Medicina. Formou-se em Filosofia pela Universidade de Pádua e foi convidado pelo Marquês de Pombal (1699-1782), para integrar o corpo docente que iria leccionar matérias científicas no Real Colégio dos Nobres. Terá chegado a Portugal em 1764. No entanto, uma vez que o ensino científico no Colégio dos Nobres não teve o sucesso que se pretendia, foi em seguida convidado, no âmbito da reforma da Universidade de Coimbra, para ocupar um lugar na Faculdade de Filosofia, onde foi nomeado lente de Química e de História Natural. Ficaria também responsável pela seleção do local da implantação do Jardim Botânico, do estabelecimento do Laboratório Químico e do Museu de História Natural da Universidade de Coimbra. Por volta de 1780 apresentou à Universidade um projeto de estabelecimento de uma fábrica de louça no Rossio de Santa Clara de Coimbra. Esta fábrica tornou-se famosa pela qualidade da sua louça, que ficou conhecida por ‘louça de Vandelles’. A Vandelli foi concedida o privilégio exclusivo da louça produzida. Em 1787 foi viver para Lisboa, onde se tornou o primeiro diretor do Jardim Botânico da Ajuda, sendo nomeado Deputado da ‘Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação destes Reinos e seus Domínios’. Continuou a ser diretor do Laboratório Químico da Universidade até 1791, apesar de estar ausente de Coimbra. Durante as invasões francesas, entre 1807 e 1811, foi acusado de ser afrancesado e em 1810, com 80 anos, foi preso e deportado para a Ilha Terceira, Açores, juntamente com outros suspeitos, no que ficou conhecido como a Setembrizada. Mais tarde foi-lhe concedida autorização para se deslocar para Inglaterra, de onde regressou em 1815. Morreu em Lisboa em 1816.
                                           Atividade Científica
 
 
Foi membro de várias academias científicas, tendo participado ativamente na criação da Real Academia das Ciências de Lisboa, onde apresentou diversas memórias relativas à Agricultura, à Indústria e à Economia. Trocou correspondência com vários cientistas estrangeiros, entre os quais o mais conhecido é Carl Lineu (1707-1778). Elaborou os planos do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, em conjunto com João António Dalla-Bella (1726-c. 1823), físico italiano que, tal como Vandelli, foi convidado para a Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra. Em Coimbra ocupou-se principalmente do Museu de História Natural e do Jardim Botânico, deixando sempre para segundo plano da sua atividade o Laboratório Químico, do qual era diretor. Neste laboratório foi sendo sucessivamente substituído em funções de responsabilidade efetiva por Manuel Joaquim Henriques de Paiva (1752-1829), Constantino António Botelho de Lacerda Lobo (1754-1820), Tomé Rodrigues Sobral (1759-1829) e Vicente Coelho SEABRA (1764-1804), até abandonar o cargo em 1791, sucedendo-lhe como diretor Tomé Rodrigues Sobral. Em Lisboa organizou e enriqueceu o Jardim Botânico do Palácio da Ajuda, que tinha fundado antes de ir para Coimbra em 1772, e participou regularmente nas sessões da Academia das Ciências.


                         
 
 
 
                          
                                             REFERÊNCIA


                 http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p10.html

BIXINA

                                                          BIXINA



A bixina é uma substância química orgânica polinsaturada, norcarotenóide, vermelha, principal corante do fruto do urucuzeirourucu, cujas sementes reduzidas a pó, são muito usadas para colorir alimentos e em filtros solares. Fruto aberto de urucu mostrando as sementes cobertas pelo arilo avermelhado devido a presença da bixina, utilizada como corante e tintura. As sementes de urucu contêm aproximadamente 5% de pigmentos, os quais consistem de 70-80% de bixina. A bixina é solúvel em gorduras mas insolúvel em água. Quando exposta à álcalis, o metil éster é hidrolisado e produz o ácido dicarboxílico norbixina, um derivado hidrossolúvel. É um composto quimicamente instável quando isolado e converte-se, via isomerização, em trans-bixina (β-bixina), o isômero cis-trans da bixina.




                                   

                

                                                        REFERÊNCIA

 

                                             http://pt.wikipedia.org/wiki/Bixina




FLOGÍSTICO

                                              


                                                        FLOGÍSTICO



 Flogístico era o nome usado no século XVIII para uma suposta substância que surgia durante os processos de combustão. A teoria do flogístico foi desenvolvida nos primeiros anos da década de 1700 pelo químico e físico alemão Georg Ernst Stahl (1660-1734). Essencialmente Stahl assumiu que materiais combustíveis, como carvão ou madeira, eram ricos em "flogístico". Durante a combustão haveria uma liberação desta substância invisível que é o flogístico. Após a combustão, o que sobrava não continha mais flogístico e, portanto, não poderia mais queimar. A oxidação dos metais também envolvia a transferência de flogístico. Por acaso, a fundição dos metais era consistente com a teoria do flogístico. Carvão vegetal também perde peso com a combustão, o que reforçava a teoria de Stahl.
 Mas o químico francês Lavoisier (1743-1794) demonstrou que o ganho de peso quando um metal se oxidava, em um recipiente fechado, era equivalente à perda de peso de ar preso no vaso. Lavoisier demonstrou também que a presença de oxigênio era imprescindível na combustão, e que nenhum material queimava na ausência de oxigênio. Assim, abandonou-se a teoria do flogístico, que na verdade não existe, e em seu lugar ficou a descoberta de que a combustão é apenas uma reação com o oxigênio, prescindindo da existência de qualquer substância como o flogístico.
 

 
Durante muito tempo o mistério da origem do fogo foi objeto de especulação filosófica. Várias teorias surgiram para explicar o que ocorre com os materiais no momento em que entram em combustão. Uma delas foi desenvolvida pelo  químico alemão Georg Ernst Stahl (1660-1734). Ao ler um livro de Johann Joachim Becher (1635-1682), publicado em Viena, em 1667, com o título “Physica subterranea”,algo lhe chamou a atenção. Neste livro, Becher apresentou sua própria teoria dos elementos. Segundo ele todas as substâncias eram compostas de três tipos de terras. Uma delas era a terra pinguis (literalmente, “terra gorda”), que dava à substância qualidades oleosas e a propriedade de ser combustível. Ou seja, para exemplificar, pense em uma madeira que é queimada. No inicio ela era composta de cinzas e terra pinguis, no final da combustão ela liberava a terra e permaneciam apenas as cinzas.
Ao ler este livro, Stahl, deu à terra pinguis um novo nome: “flogístico”; de origem grega “phlogios”, que significa “ígneo”. Então, ele criou uma nova teoria: a “teoria do flogístico”;  e segundo ela os materiais combustíveis, como papel, madeira, enxofre, carvão e óleos vegetais, possuíam um princípio comum inflamável presente apenas nos materiais combustíveis. Se algum material não queimasse, é porque não teria flogístico em sua composição.
Esta teoria permaneceu satisfatória por muito tempo porque explicava vários dos maiores mistérios das transformações dos materiais. Além de explicar fenômenos envolvendo a combustão, englobava também os referentes à oxidação. Vejamos dois deles:
* Sem ar a combustão não ocorre- Segundo Stahl, o flogístico precisa sair para o ar durante a combustão. Mas, certa quantidade de ar só encerra uma parte de flogístico; assim, se retirássemos o ar do sistema a combustão cessaria porque o flogístico não teria para onde ir. Exemplo: se  colocarmos um copo sobre uma vela acesa, ela apagará. Além disso, ele indicou o ar como imprescindível na combustão porque seria ele que transportaria o flogístico de um corpo para outro.
* Os metais aumentam sua massa depois da queima, de sua corrosão ou enferrujamento, isto é, sua oxidação – O flogístico era repelido pela terra, assim quanto mais flogístico um material possuísse, mais leve ele seria. Por isso, ao sofrer combustão o metal ficava mais pesado. Outro ponto que apoiava sua ideia era o fato de o óxido ter maior massa que o metal; desse modo, ele concluiu que o metal possuía mais flogístico que o óxido.

No entanto, esta teoria foi abandonada, pois alguns fatores entraram em contradição coma sua explicação. Por exemplo, o papel ficava com menor massa depois que era queimado, ao contrário do metal. Um ponto culminante para a queda desta teoria foi o fato de que no século XVIII, Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794) descobrir, por meio de inúmeras experiências bem elaboradas e controladas, a importância de um elemento químico no processo da combustão. Este elemento era o oxigênio (O). Foi desse modo que a teoria do flogístico foi abandonada.
 



                                         REFERÊNCIA










 

 
PROTOQUÍMICA BRASILEIRA



Há 32.000 anos os primeiros habitantes do Brasil já aplicavam pigmentos sobre de seus abrigos: foi encontrada no Piauí uma pintura rupestre, feita com tinta vermelha, com cerca de 17.000. As pinturas rupestres, não deixam duvidas quanto ao fato de que nossos ancestrais sabiam produzir pigmentos. A esse uso “primitivo” e intuitivo desconhecimentos químicos no período pré-histórico convencionou-se chamar de protoquímica.
Uso “primitivo” e intuitivo de conhecimentos químicos na pré-história. Pinturas rupestres (aplicação de pigmentos por brasileiros) - 32.000 anos Pinturas com tinta vermelha (sítio arqueológico FUNDHAM - UNESCO) Serra da Capivara, São Raimundo Nonato (PI) - 17.000 anos.
                                   
 
 
 

                                      REFERÊNCIA

Urucum
Urucuzeiro, Urucury, Urucu-uva, Rucú, Arnota, Anata, Bixa orellana Linneo, Família das bixineas
 
História Natural. Árvore de dez a vinte pés de altura que se observa na maior parte das províncias centrais e do norte do Brasil. Tronco direito, ramos aproximados formando uma cimeira redonda e copas de ramos recentes pubescentes; folhas ovais, oblongas, lanceoladas, acuminadas, cordiformes ou por vezes redondas na base, com três ou cinco nervuras até o meio de cor verde clara e glabra pelas duas faces; folhas nascentes  cobertas de uma  penugem de cor amarela ou arruivada, que se desvanece bem depressa; pecíolo delgado, cilíndrico, de cor púrpura roxa, assim como as nervuras e as veias; estípulas lanceoladas, ovais, assoveladas no cume e membranosas; panículas de sete a quinze flores; pedúnculo comum, rijo, pulverulento na época da florescência, assim como os pedúnculos e pedicelos; pedúnculos rijos, pouco numerosos, curtos de duas a quatro flores; os inferiores alternos; os terminais ordinariamente em umbela e subfastigiados; pedicelos mais curtos que o cálice, espessos, algumas vezes em breve cacho corimbiforme, ordinariamente em pequena cimeira; flores largas de uma polegada; sépalas obovais ou orbiculares, estriados, pulverulentos e avermelhados; pétalas obtusas, obliquamente obovais, mais curtos que o cálice, de cor rósea ou púrpura; estames mais curtos que a corola, quase longos como o pistilo, não persistentes; ovário guarnecido de sedas brancas mais curtas que o estilo; fruta ou cápsula cordiforme, oval, pontuda, um pouco comprimida nas duas faces, denegrida, coberta de sedas curtas, assoveladas, da mesma cor que o pericarpo; válvulas compridas de uma  polegada, largas pela base cimbitiformes, pouco divergentes; semente de duas linhas de comprido, tegmento exterior; polpa de cor de azinhavre, fuminhos e nervuras da placenta preta (Spach, Histoire Naturelle des Végétaux Phanérogames, t.6, p.118). 
Análise Química. O Urucum contém um pouco de matéria colorante, matéria resinosa amarela (Oxellina), matéria extrativa de cor amarela-vermelha, mucilagem, extrato, goma, fibra lenhosa, um ácido próprio (John, Annales de Chimie, t.88).
 Propriedades. Em medicina, o Urucum tem sua fama, entra como agente afrodisíaco nos pós da Índia chamados Wakaka, descritos no formulário magistral de Cadet de Gassicourt do seguinte modo: Cacau em pós, uma onça; açúcar, quatro onças; açúcar de baunilha, seis oitavas; canela, uma oitava; urucum seco, uma oitava. Faça S.A. em pós. Nicolson assevera que a polpa da fruta é fresca e mesmo adstringente. As sementes, diz Martius, que algumas vezes recebe o nome de semente uanacu ou unacu e se vendem no mercado, são recomendadas por alguns médicos como adstringente cardíaco, para moléstias do coração e para casos de hemorragias. O cozimento das raízes ainda vale melhor para preencher a indicação de suspender as hemorragias. A mistura do Urucum com azeite de rícino preserva, pela sua aplicação sobre a pele, dos insultos de mosquitos e borrachudos. A polpa vermelha é de uso vulgar na cozinha brasileira para dar uma cor  de açafrão às iguarias e aos adubos, pois ela se reputa aromática e tônica. A madeira é resinosa e pelo atrito ela facilmente se inflama e faz fogo. Nas artes da tinturaria, o Urucum tem grande extração, pois a tinta amarela de cor de ouro que fornece é a mais bela e brilhante de todas as cores pelo seu lustro. Infelizmente, ela se desvanece ou altera em pouco tempo. Serve para tingir as sedas e os tecidos de lã, para os vernizes, os óleos, as gorduras e para dar cor à manteiga, à cera e aos queijos ingleses. Sabe-se que os índios costumam tingir o corpo com Urucum para preservá-lo do contato nocivo dos insetos. Prepara-se o Urucum tirando o primeiro tegmento da fruta; as sementes, depois de apanhadas e despegada a película, são separadas e piladas. O pilão deve ser do tamanho adequado ao trabalho e de madeira rija. O macerador recebe a semente ao sair do pilão, dilui-se em água onde fica até ser espremido. Envolve-se a massa peneirada e limpa em folhas de bananeira, e ela fica assim até experimentar um princípio de fermentação. Então pisa-se de novo, leva-se uma outra vez a macerar e depois torna-se a secar. Os que repetem quatro ou cinco vezes a operação do maceradoiro procuram aumentar o peso da massa do Urucum Fazem o mesmo que outros no comércio, entretento a moleza e amassando o Urucu com porção de urinas. As sementes secas são preferidas pelos compradores do que a massa. Verdade é que elas fornecem uma matéria colorante superior, porém sofrem pelo contato da luz, perdem a vivacidade da cor e tornam-se pretas pela umidade. Faz-se a cultura do Urucuzeiro de sementes e estacas, sendo as primeiras preferíveis. Quando a planta chega à altura de dez polegadas, está boa para ser transplantada. A plantação deve ser o mais bem alinhada possível. As lagartas não atacam o Urucuzeiro. As chuvas e a umidade lhe são favoráveis. O seu maior inimigo é o grande calor. O Urucuzeiro exige cuidado e limpeza mormente nos dois primeiros anos. Os preceitos da cultura acham-se bem expostos na Memória sobre a Plantação e o Fabrico do Urucum, publicada no primeiro número do Patriota, janeiro de 1813.
 
 
 
 
                                          Referência